sábado, 31 de março de 2012

Boulangerie by Stef

Hoje andei o dia inteiro a passear com o computador na mochila sem lhe dar uso específico, talvez tenha servido como haltere dorsal.

Reparei agora que haltere é uma palavra muito esquisita.

Bem, voltei à Boulangerie by Stef, ideia da Cat e que devia ter englobado mais duas almas masculinas, mas que acabou por ser um agradável e feminino afternoon tea (ou afternoon café au lait para mim).

No meio de sirenes de ambulância, sonoras buzinadelas, falhas de electricidade e choros de criança, foi possível criar uma agradável atmosfera estranhamente pessoal na mesa junto à janela, a que tem os bancos esquisitos. E bem, hoje, motivada pela Catarina, decidi provar um croissant acabadinho de fazer, acompanhado do habitual galão. A qualidade deste sítio é inegável, o croissant aparece por si só, estaladiço, pequeno, num cestinho, como a convidar para que seja saboreado assim, sem condimentos extra, mas eu apesar de tudo não resisti à manteiga, num pratinho (pedida três vezes porque se estavam sempre a esquecer).

O galão parece ter sido mais caro do que o croissant e pela primeira vez desde há muito bebi-o com açúcar, porque não havia adoçante. A ausência deste produto complementa bem o espirito rústico e autêntico do resto da casa. O único problema é que não vinha muito quente como tinha pedido, aliás, o único problema é que o sítio é tão autêntico que até faz jus à arrogância francesa, que não podia faltar.

A casa estava cheia pelas 15h e foi esvaziando lá para o fim da tarde, tal como as prateleiras, gosto de intercalar conversa com croissants, manteiga e nutella, gosto de ver a cara de gulosa da Catarina, e mais que tudo, gosto de ouvir as pessoas a falar de si, por mais que elas se desculpem, eu gosto genuinamente de as ouvir, participar, contar aventuras minhas complementares e chegar à conclusão que afinal de contas, ter problemas não é um problema, é normal, é sinal talvez de inteligência, porque quem não pensa nas coisas estará sempre bem na sua vida espiritualmente vazia.

Antes de pagar a conta, 2.40€ pelas duas coisas, ainda provei pão com azeitonas molhado em azeite, apeteceu-me levar o tabuleiro todo, como já tinha dito, qualidade é uma certeza. Adeus mais uma vez Boulangerie, podem não ser muito simpáticos, mas uma coisa incentiva certamente a iniciar conversa: os doces sobre a mesa, porque quando queremos morango e temos pêra, somos obrigados a propor uma troca ao vizinho do lado, e isso acho fenomenal!

sexta-feira, 30 de março de 2012

DeliDelux

Sexta à tarde, à semelhança da semana passada, acabei por ir lanchar com a Margarida e tentar fazer um pequeno serão de trabalho produtivo. Foi um lanchar bastante adiantado, e por isso pedi apenas um galão, que apesar de caro (1.40€) até era generoso.

A DeliDelux, para além dos preços altos, tem um pessoal bastante pretensioso que parece estar ali apenas para ganhar algum dinheiro para poder sair de casa dos pais. Tenho muitas queixas do local mas estou disposta a dar-lhes mais uma hipótese, em sítios assim a vontade de retribuir a simpatia esvanece-se, até porque não há simpatia para retribuir.

O sítio em si até tem um conceito engraçado: tem uma loja de produtos biológicos com todo o tipo de categorias de alimentos, desde enchidos e queijos a iogurtes, arroz, fruta, bolachas, etc. Avançando um pouco mais temos a zona onde se situa o balcão para pedir refeições, bastante pequeno, com algumas coisas expostas e empregados com ar impaciente.

Têm também uma esplanada com vista para o rio que seria a cereja no topo do bolo, mas infelizmente, maldito destino, tinha acabado de chover e mesas e cadeiras estavam completamente encharcadas. Podíamos no entanto ter aproveitado a vista através dos vidros de correr, mas mais uma vez a sorte deu-nos um estalo na bochecha, enfiou lá um cruzeiro a ocupar literalmente toda a vista que tínhamos e parecia que estávamos noutra parte de Lisboa, com um prédio à frente. Isto pôs-me a pensar inclusivamente nestas estruturas e em como se podiam comparar a pequenas cidades portáteis. Têm tudo, tanta coisa que me pergunto qual a finalidade de ir numa destas viagens se se não tem tempo nenhum para depois visitar os locais turísticos onde o barco atraca, e o resto do tempo é na mesma passado num sítio  pseudo-urbano.

Mas enfim, lá pedi o meu galão e a Margarida pediu uma Bagel de salmão fumado e queijo filadélfia (acho que custou 6.35€). A meio da tarde decidi investir 1.70€ num iogurte natural comprado na mercearia da DeliDelux. Eles perguntaram se queria um saco e eu disse-lhes que ia consumir aquilo no café, onde para meu espanto me disseram que não se podia consumir os produtos lá dentro. Disse-lhes então que ia comer na rua e eles riram-se mas não disseram nada mas acabei mesmo é por ir embora dali e por pouco não lhes gamei a colher como forma de retribuição.

terça-feira, 27 de março de 2012

Tuareg

Podem encontrar a segunda post sobre este local aqui.

Cada vez que vou ao Tuareg o cenário repete-se, as pessoas são as mesmas, tirando uma ou outra, só muda o sabor da Narguila (hoje foi melancia e limão), o do chá, que não sou eu que bebo (hoje foi um cocktail de frutos vermelhos), o do batido do Francisco (hoje foi o Magreb, apelidado por nós de Rabichice, que levava vodka, frutos vermelhos, entre outras coisas) e da bebida, desta vez fui eu, pedi um Irish Coffee que me custou 2.5€ e era muito mais pequeno do que pensava, só para descobrir que não aprecio assim tanto café com whisky e que mastigar grãos de café pode não ser das melhores coisas, mesmo para grandes apreciadores.


Mas fora o café, foi incrível, acertámos em tudo, mesmo o próprio sabor da chicha foi dos mais agradáveis de sempre e não sabíamos o que se passava mas continuámos a desfrutar da nossa maré de sorte ao paladar porque não acontece todos os dias. É claro que depois chegou o café para estragar o arranjinho, mas serviu de um certo modo para aniquilar o efeito “senhora” conferido pelo batido cor-de-rosa do Francisco, a quem já tinha aparecido um pipi entretanto.

Mas as conversas no Tuareg são sempre construtivas e roçam assuntos que não lembram o diabo. Estes assuntos também carecem de ser debatidos e por isso é pertinente que existam sítios como este, onde podemos relaxar os rabiosques em bancos almofadados marroquinos (ou simplesmente em almofadas), ao aconchego da parca luz dos candeeiros indianos e das velinhas, junto de muitos outros grupos que cá vêm pela mesma razão.
Há que frisar que as casas-de-banho do local são daquelas que têm uma luz que apaga e então temos de fazer chichi a dançar para não ficarmos à escuras - precioso!

A experiência que cá tive desta vez foi bem melhor do que as últimas, o rapaz que nos atendeu parecia pensar que nunca cá tínhamos vindo e achei-o super divertido. A Narguila foi 9€ a dividir por três pessoas (+3€ por cada carvão extra e mais 3€ se for com álcool), os batidos com álcool são sempre 5€ e os chás são 2.50€. As noites aqui nunca duram muito porque há que apanhar o metro rumo a casa. Saímos lá pelas 00:20, mas quem disse para se ter uma boa noite tinha de se voltar de manhã?



segunda-feira, 26 de março de 2012

Café da Dança/Mezzanine

Podem encontrar a segunda post deste local aqui.

Tinha convidado a minha amiga Sara a tomar um Brunch hoje, havia um local em Belém que me despertou a atenção, mas esqueci-me que segunda-feira é o dia fatídico e que está tudo fechado (para além de que a maior parte dos sítios só oferece esta refeição aos fins-de-semana).

O Mezzanine ou Mezzas, como é coloquialmente chamado, é possivelmente um dos últimos espaços de jeito de Algés.

Algés sempre foi um local popular entre as pessoas que agora estão na casa do meio século e que viviam na zona. Aconteciam coisas, havia o Ribamar, o Caravela, o Tamar, esses cafés onde os estudantes se sentavam para ler e conversar e os artistas rabiscavam no papel, discutia-se tudo e mais alguma coisa, mas foi-se, o Ribamar perdeu aquela chama jovial, tornando-se um local para gente mais velha, e agora é um restaurante (o Touro Ibérico). O Tamar não faço a mínima ideia. O Caravela já não é como era, a zona tornou-se local de passagem e não de estadia, sinal dos tempos em que vivemos? Perdeu-se o espírito.

Assim sendo visitámos o Café da Dança/Mezzas que estava vazio por estarmos ainda na primeira meia-hora da tarde. Melhor! Demasiada gente é muita distracção e o som humano acaba por cobrir o som da pouca Natureza audível na cidade (pássaros a cantar, restulhar das folhas, vento, etc).
Ainda sobrava um pouco da nossa aura cataclísmica de ontem à tarde. O ser etéreo que trata desse assunto deve ter andado a desatarrachar o guarda-sol do seu suporte e este quase nos ia acertando ou engolindo.

Está-se divinalmente naquela varanda, ela materializa o conceito de tardes de primavera, é delicioso, tal como os crepes que comemos à sobremesa e que o dono nos veio perguntar se queríamos que ele trouxesse, estas pessoas importam-se, apesar de me ter dito quando cheguei que não conseguia fazer nada que requeresse cozinha (incluindo cozer um ovo para uma sandes, o que achei estranho), lembrou-se que tínhamos falado em crepes quando estávamos no balcão a pedir os nossos salgados, e lá subiu ele as escadas para nos atender, como se para compensar o nosso desconsolo anterior.



Comi então uma mini-calzone de queijo e tomate (1.50€), acompanhada de um galão (1.10€), e como sobremesa dividi dois crepres com a Sara, um de chocolate (2.50€) e outro de canela, limão e açúcar (2€). A Sara comeu uma merenda de queijo e fiambre (1.30€).

Tirei umas fotos aos crespes enquanto me babava com vontade de comer, e estavam tão bons quanto pareciam, acompanhados com uma pequena dose de chantily. Ficam por provar o de mel e nozes, o de banana e o de gelado.



E depois de tantos objectos e animais assassinos se atirarem contra nós, fica a expressão: we are living on the edge (of disaster). Mas desde que essa edge venha acompanhada de crepes, viverei nela com muito prazer.

domingo, 25 de março de 2012

Café Tati

Era uma combinação de quatro, mas os trabalhos escolares engalfinharam o Tiago e a Catarina, ficando assim o grupo reduzido a duas almas famintas. O nome do café sugere e muito bem o ambiente esperado: um toque afrancesado. Parece então que fomos projectados para dentro de um filme, talvez uma Amelie Poulain, cuscando a sua cara metade que está de costas na mesa do lado. Pelo menos foi assim que me senti, enquanto desenhava no meu caderno à espera da Margarida.

Duas tostas para dividir, tostas que são mais torradas ou tapas gigantes, são agradáveis, nada de fenomenal, mas não enchem, vêm acompanhadas de salada de alface e gomos de tomate com sementes de sésamo. Pedimos sandes/torrada de legumes (bróculos, cenoura, e mais outros) que nos ficou por 6.5€ e mais uma de beringela, mel e nozes (crocantes, com um toque qualquer especial) por 6€. Havia também uma muito sugestiva de truta fumada e maçã e estoutra de presunto e queijo (raquelete?), mas terão de ficar para uma próxima visita. Têm também brunch de 10€ aos fins de semana. Francês e bruch, duas novas modas Lisboetas num só café.

As mesas estão relativamente bem distribuídas, embora não haja muitas, e consegue-se alguma privacidade pela sua disposição em relação à coluna central. Há também um sítio com sofá e mesa baixa mais indicado para um lanche e leitura da tarde, um livro nosso, ou sugerido pela prateleira que se encontra pendurada na parede que tem, para além destes, desenhos infantis, bonecos, e alguns jogos

Numa das vezes que estive com a minha amiga Sara ela referiu a arquitectura da casa-de-banho, e isso tornou-me mais alerta em relação aos WC dos locais que visito, muitas vezes funcionam como uma extensão do próprio sítio e isso não deixa de ser engraçado quando acontece. Um pequeno pormenor importante, estas tinham portas de correr com trinco, um espelho pousado num sítio um pouco mais alto do que o chão, com flores a adorná-lo, e uma almofada/tapete ao lado que parecia ser feita de cobras sobrepostas de tecido estofado. Não sei qual seria a sua utilização ali, talvez arranjos femininos de ultima hora, se assim for isso é trés français, imagino uma mulher ali sentada a olhar-se ao espelho e a esmerar a sua maquilhagem sedutora, ou uma rapariga tosca a ajeitar o caracolinho.

Os preços são no entanto ligeiramente caros, as saladas rondam os 7€, assim como os pratos do dia, e a sopa é 2.5€ (hoje era de courgete). O Tati é atrás do Mercado da Ribeira, e para quem gosta de chás, há também uns bastante especiais organizados numa lista catita, o meu campo, contudo, é e sempre será o café. Se o café e o chá fossem pessoas o café seria mais tosco, rude, citadino e com os pés assentes na terra. O chá seria talvez uma senhora delicada, alienada do mundo, com um modo de vida mais calmo e sereno. Se bem que os dois lados arranjaram intermédios como o machiatto e o chá preto. Há androginia no mundo das bebidas.