segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bake the Difference



Escondida por detrás da maior avenida de Lisboa, só lá vai quem sabe o que procura, e com razão, porque a Bake the Difference é a única pastelaria completamente vegana de Lisboa, e quando digo vegana, excluo quaisquer produtos de origem animal, algo em que eles estão activamente empenhados em fazer acontecer já que, segundo me disse a rapariga que nos estava a servir e com a qual ainda falei bastante tempo, muitos dos produtos de soja que se vêem à venda acabam por ter sempre qualquer derivado animal (ovos, lacticínios ou mel) e por isso há que investigar bem e saber exactamente aquilo que se vai pedir, ou corre-se o risco de comprometer ideologias pessoais.




É engraçado quando se toma contacto com o ponto de vista de outras pessoas: vegana desde sempre (por escolha e por ser alérgica a algumas coisas) esta rapariga vê o mundo alimentar de uma maneira completamente diferente por estar, como ela própria disse, no seu pequeno mundinho vegano (a loja), onde toda a gente que lá vai é como ela e, por isso, os veganos são a norma naquele micro habitat. É óbvio para ela que quando diz que vai comer massa com salsichas se está a referir a salsichas de soja, o que é que havia de ser? Não existe a outra opção, mas nós, não veganos, ao recebermos esta informação temos primeiro de a assimilar e confrontar com o contexto em que nos inserimos, para deduzirmos depois o que realmente está a ser dito.

Descobri mais coisas interessantes: tudo em demasia faz mal, incluindo a soja. O leite de soja não deve ser bebido todos os dias como se estivéssemos a executar um feito fantástico, estes são alimentos que devem ser consumidos três ou quatro vezes por semana, e depois outros substitutos de proteína devem ser utilizados, como as lentilhas ou o feijão, entre muitos outros legumes. Lá se vai a crença de que uma refeição rica em soja faz bem, tonterias!




O sitio é muito simpático, é pequenino mas é o suficiente, eu e a Rosa pedimos uma empadinha de tofu fumado e legumes e um bolo de cenoura, foi curioso o que aconteceu a seguir, mal tínhamos acabado de comer a empada e nos preparávamos para dividir o bolo veio a rapariga a correr aflita, gritando "NÃO COMAM!", roubou-nos o prato e fugiu com ele, parecia um filme surrealista. Paralisámos completamente porque não percebemos o que estava a acontecer e ocorreu-nos algo grave como envenenamento, mas aparentemente o cozinheiro tinha-se esquecido de pôr açúcar no bolo, e como era a grande especialidade da casa, não queriam que a provássemos no seu pior, mas sim em todo o seu esplendor, num outro dia. Ofereceram-nos então o nosso pedido de substituição para nos compensaram e escolhemos um muffin de limão e sementes de papoila (se não me engano), mas que não estava nada de espectacular. Enfim, no meio disto tudo ganhei uma história para contar aos meus netos.



E por falar em netos, não podemos evitar ouvir as conversas paralelas, e durante meia hora um casalinho esteve a discutir com a dona da loja a possibilidade de trazerem cá a avó e de escolherem algo para almoçar que ela gostasse e causasse boa impressão, aparentemente a avó gostava de quiche. E a dona super prestável só dizia: "E strogonoff de tofu? Isso parece algo que uma avozinha goste! E lentilhas? Lentilhas são mesmo comida de avozinha! E que tal..." Não pude deixar de rir, um bom motivo para cá voltar é sem dúvida a boa disposição das pessoas que cá estão e as conversas que pairam no ar e, claro, o bolo de cenoura.




Se quiserem saber mais sobre este sítio e a diversidade de produtos que oferecem consultem o website, procurem no facebook e façam o dito like, vão lá, comam o dito bolo de cenoura e sobrevivam para contar, ou façam tudo isto e sintam-se a um passo a menos da imortalidade.

Aberto de segunda a sexta das 9:30h às 19h. Os workshops de comida vegana são ao sábado mas convém consultar o site ou facebook para confirmar horários.

sábado, 26 de maio de 2012

2 ao Quadrado

Depois do Café Saudade nos fechar a porta à meia-noite, decidimos não acabar por ali e ir à procura de mais qualquer coisa, mas o quê? Informámo-nos com o senhor que estava a fechar o estabelecimento e que parecia super disposto a nos ajudar (tinha talvez um pequeno sentimento de culpa por nos estar a mandar embora). Sugeriu-nos um bar chamado 2 ao Quadrado e lá nos dirigimos para o local.




Este é um espaço um pouco mais barulhento do que os que tínhamos estado anteriormente. Tem já um pequeno toque de tasca (pelas mesas e pelas gentes) mas ao mesmo tempo vê-se que há bastante camaradagem entre os frequentadores e também um certo apreço pela cultura como se pode observar pela enorme quantidade de flyers e posters que têm a revestir as paredes e que nos relembram obras  fantásticas como os filmes de Jacques Tati, nos trazem à memória a primeira vez que vimos o Laranja Mecânica, ou nos põem a dissertar falas dos sketches dos Monty Python.

Sempre achei que quando mais adereços tem um sítio, mais motivos de conversa se arranjam. É claro que na maioria dos casos não é preciso, mas é interessante passar os olhos através desta panóplia de cartazes e ir relatando coisas sobre eles, apreciando a sua estética, falar deste ou daquele actor, etc

Os preços que aqui oferecem são bastante generosos, mas a simpatia dos funcionários não foi assim tão generosa e pareceram-me um bocado carrancudos (mas não sei porquê quase que poderia adivinhar que seria assim, falácia, pensamos sempre que já sabíamos aquilo que não fazíamos ideia). Uma tosta com três ingredientes custa 2.60€ (à escolha queijo, fiambre, tomate e cogumelos). Uma imperial pequena custa 1€ e uma caneca com o dobro (44cl) custa 1.90€, um licor beirão custou 2.50€ e um vinho do porto 2€, sem contar com as meias doses que eles têm (que ficam a um pouco mais de metade do preço).




Há também uma sala mais interior que tem mesas de snooker, nós ficámo-nos pela cerveja, pelo licor beirão (que descobri que afinal não gostava assim tanto) e pelo vinho do porto. Substituímos jogo por conversa e no meu caso também por desenhos. Foi aqui que me estreei a desenhar gatos em locais que visito, talvez venha a fazer disso o meu Z de Zorro. Coloquei-o debaixo do tampo da mesa, juntamente com o resto da papelada que já lá estava. Assegurei-me que estava minimamente profundo para não o tirarem de lá.



Eles costumam ter alguns eventos musicais e pelo que pesquisei chegaram a ter conferências. O website parece não ser muito actualizado mas por via das dúvidas vão dando uma olhada.

Aberto de segundas a quintas das 12h às 24h e sextas e sábados das 12h às 2h.

Café Saudade



Pergunto-me se se pode ter "saudade" de um sítio onde nunca se esteve. De todas as vezes que tentei nunca consegui arranjar um pretexto grande o suficiente para me teletransportar para Sintra, mas hoje tudo aconteceu num ápice.



Tal como o Pois, Café, também este utiliza uma palavra tipicamente portuguesa no seu nome: saudade. Por mais melancólico que seja o seu significado, não deixa de ser uma palavra de grande beleza. Não sei se alguma vez terei um sentimento tão forte por um local em si (sou capaz de utilizar a palavra para me referir à cidade de Lisboa), acho que quando sentimos falta de um sítio sentimos falta de tudo o que lhe está agregado, sentimos falta do "serão", amigos mais do que incluídos, o essencial mas não obrigatório sabor da comida, e o ambiente que nos rodeia e que pode fomentar a conversa.






Viemos para pouco ficar mas o tempo de estadia foi mais do que o suficiente para dar uma volta pelas redondezas e explorar as imensas divisões desta casa. Não sabia que era assim tão grande, as fotos realmente nunca fazem juz aos locais, as minhas incluídas! Eles têm salas de exposições, salas de mostra de objectos e salas de venda de bibelots, sem mencionar que a cozinha se situa no meio de tudo e temos sempre a possibilidade de cuscar o que andam para ali a fazer, algo que fiz, mas mais para lhes relembrar que tinha pedido uma limonada, e lá veio ela em toda a sua doçura atómica.

Algo que devem saber sobre mim: tenho muitas aftas, gosto especialmente de baptizá-las com este tipo de bebidas ácidas, que como sabem é super conveniente. Mas sobrevivi para continuar a relatar as minhas estadias em cafés e é isso que interessa.




De qualquer dos modos aquela limonada (1.60€) soube-me a muito. A Carolina pediu um chocolate quente com um aspecto de fazer inveja, e os três rapazes dividiram um chazinho, estas escolhas parecem ligeiramente fora de contexto ditas assim mas não há nenhuma regra que diga que os homens não podem dividir um bule de chá entre eles, isso e receber flores.

Pouco tempo depois estávamos a juntar uma mesa extra para mais convidados e a conversa mudou para os filmes. É sempre bom quando alguém conhece um dos meus filmes favoritos de sempre e gosta. Partilho aqui a página imdb do delicioso O, Lucky Man!, com o Malcolm McDowell. De salutar também a banda sonora do vídeo pelo dedicado Alan Price (pianista da banda The Animals) com pérolas como Poor People, O, Lucky Man! e Sell Sell, e por falar em vender, sinto que estou a fazer isso neste momento.



Costumam ter alguns eventos, nomeadamente às quintas-feiras, altura em que se junta um pequeno grupo de interessados na leitura à volta de um orador principal e discutem uma obra escolhida. De qualquer dos modos é ir confirmando no facebook do café já que o blog não parece ser actualizado.

Aberto de segunda a sábado (com folga às quartas) das 8:30h à meia-noite, embora o simpático senhor que nos serviu nos tenha dito que tencionam agora prolongar um pouco mais o horário.
Domingos está aberto das 9h às 20h. Ah, e têm internet gratuita.

Encontros de Alternativas em Sintra



No jardim da biblioteca principal houve um pequeno festival de três dias: os Encontros de Alternativas em Sintra. Só vim cá para ver este pequeno concerto de uma amiga de uma amiga. Havia bancas de artesanato, comida orgânica e roupa alternativa, um pouco no espírito Andanças. 

Gostei imenso de ouvir esta banda e partilho-a aqui, mencionando também o próprio espaço onde estive, que não conheço sem a "decoração" mas que me pareceu um óptimo sítio para se estar. A música Desnorte ganhou a minha estima.

Saliento também  a importância que têm iniciativas como esta e como A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, ambas põem em foco o trabalho de pequenas bandas que precisam dessa divulgação, e eu já ouvi belíssima música sem estar propriamente à espera e isto faz com que valha imenso a pena vir a estes eventos. Estas bandas tocam com coração.

Salla de Estar

Há uns meses tinha começado a fazer a minha lista de bares e cafés a visitar em Sintra, era um plano mais ambicioso porque fica mais longe de casa e requer transportes para os quais não tenho passe, mas seria um desafio. Felizmente a Carolina tratou de mostrar-me três desses sítios numa só noite e desse modo pude riscá-los airosamente do papel numa espécie de Z de zorro, rápido e eficaz.



A primeira paragem foi o bar Salla de Estar onde nos sentámos para comer qualquer coisa, este sítio faz-me lembrar uma mistura de Wanli com Pavilhão Chinês ou algo semelhante, sofás confortáveis em toda a parte e evidências de sentirem um carinho especial pela cerveja Heineken, têm uma fonte delas, não, é que têm mesmo! Para além de que decoraram uma das colunas só com os isoladores da marca, isto é que é amor. E eu continuo a esforçar-me para gostar de cerveja mas ainda não será desta. Ao menos gosto de pão, ah, muitas histórias e conhecimento científico foram partilhadas neste dia!



O espaço tem um hall de entrada, com uma mesinha com flyers e um peixe estranho, que depois dá acesso a dois andares, um inferior e um superior, o de baixo que se deve tornar possivelmente mais animado por ter o balcão e alguns espaços de entretenimento como uma mesa de snooker, um piano (não percebi se se pode tocar piano ali mas o facto é que havia um) e a televisão (para ver jogatana suponho). Tem também a tal fonte de garrafas, juntamente com mais alguns bibelots incluindo um gato de porcelana, com a qual damos mal começamos a descer as escadas, logo após sermos seriamente observados pelo nosso amigo Chaplin, pintado em azulejo.





As paredes estão repletas de coisas interessantes que eu devia ter investigado com mais cuidado mas estava numa espécie de overload de fome e entusiasmo e então não sabia muito bem para onde me havia de virar. Havia embalagens de bebidas espalhadas numa das paredes como se estivessem a boiar nela, posters vintage, ou melhor, imagens impressas em A4 coladas em todo o lado. Para não mencionar quadros com motivos sem nenhum critério em especial, material equestre, pratos, livros, trezentas mil coisas, este sítio é uma espécie de arrecadação fora de casa.





Fotografei exaustivamente o local e ganhei logo a alcunha de fotógrafa pela parte do moço que nos veio servir as tostas que, por falta de um nome pelo qual me chamar, teve de dizer para me desviar do seu caminho com uma alcunha. Sempre é melhor do que "hey, psst".

O momento de degustação de tostas foi particularmente interessante, acabei por não ficar com registo porque estava basicamente num exercício de equilibrismo do prato nos joelhos e não dava assim muito jeito. Comemos na penumbra do andar de cima, num canto repleto de sofazinhos, pedi uma tosta de frango, a Carolina de atum, o Casimiro pediu a da casa, o Zé pediu um crepe, o Rodrigo pediu uma bebida e comeu a comida de todos portanto acabou por ficar melhor servido, aliás, foi ele que descobriu que a minha tosta e a da Carol tinham sido trocadas, e que na realidade eu estava a comer atum e ela frango, aparentemente não notámos a diferença mas, em minha defesa, o atum é um peixe que sabe a carne e é diferente dos outros, e o frango é uma carne que sabe a atum e por isso é diferente das outras, não quero saber, estão bem um para o outro (para além de que os molhos ainda eliminam mais o pouco sabor destes dois).

Mantenho o meu orgulho!

Acho que as tostas foram cerca de 3.50€, são bastante grandes, vêm em duas partes e têm a forma de peixe (que irónico) não sei porquê. Lembraram-me sardinhas doces na altura (que é um dos doces que mais adoro, tradicional de Trancoso!). Bem talvez esteja a exagerar um pouco. Ah, as tostas estavam deliciosas, frango ou atum, não interessa!

A conversa derivou para as gomas, que sempre foi algo que me enjoou, e fiquei a saber que são uma espécie de gelatina solidificada e com muito açúcar, portanto uma grandíssima bosta, e como bónus a receita estava escrita por detrás dos pacotes de açúcar que estavam nas mesas.

No andar de cima o ambiente é mais calmo. Há um "buraco", no qual estão escritas na ardósia as bebidas e os preços, e através dele conseguimos ver as carecas de quem se senta ao pé do bar.



No piso superior há mais objectos de colecção que aludem ao tema marítimo, nomeadamente barcos, mas há também uma boia, peixes, nós de marinheiro envidraçados, imagens emolduradas, etc.






As mesas têm uma espécie de isolador para pratos que são um reaproveitamente de vinis antigos, uma ideia já vista mas que fica sempre bem e condiz com o ambiente.



As cortinas de veludo dão um toque burlesco (a determinada altura fizemos uma piada com isto mas já não me lembro), reforçado pelos padrões na parede, candeeiros com franjinhas e algumas imagens de mulheres espalhadas também um pouco por todo o lado.



Não consegui bem descobrir um artigo perfeito para vos passar a ideia de que tomar pequenas doses de algo mau algumas vezes na vida faz melhor do que nunca experimentar certas coisas porque contribui para que o corpo vá ganhando imunidade contra essas mesmas (um dos exemplos foi o tabaco). De qualquer dos modos descobri um artigo na wikipedia que parecia falar também de pequenas doses embora não vá completamente ao encontro disto, aqui está ele, não deixa de ter as suas contradições, como tudo na vida.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pois, Café

"Pois..." Aquilo que mais se ouve dizer entre o povo português e talvez uma daquelas palavras que não têm uma tradução perfeita. É uma onomatopeia de resignação ou de confronto com a maléfica realidade, quando criamos na nossa cabeça o cenário abstracto ideal e, de repente, nos apresentam factos que invalidam toda esta situação hipotética.

Então e tens dinheiro para fazer isso?
Hm... Pois...

O "pois" é assim uma palavra crucial da nossa língua e fez-me pensar na nossa maneira bilingue de falar. Quantas vezes não damos por nós a comunicar numa espécie de portinglês quando para aquela situação não existem palavras mais adequadas do que estrangeirismos. É uma pena não dizer exactamente o que queremos só para salvar a integridade da nossa língua mãe, e então, lá deixamos sair um self-conscious porque "auto-consciente" soa estranho ou uma bitch em vez de "puta" mas com o significado de "sacana" e assim ninguém interpreta da maneira que não queremos. Será este o futuro da linguagem? Uma mixórdia tal que qualquer estrangeiro consegue sempre perceber parte do que estamos a dizer, um paleio universal, utopia cumprida!




O Pois, Café é um café austríaco, gerido por austríacos, com coisas austríacas. Chegados a Portugal depararam-se com a misteriosa palavra "pois", o filler da língua portuguesa, e assim foi baptizado o café, que passou então a invalidar os sonhos de muita gente.

Este espaço serve as melhores tostas de Lisboa e arredores em termos de sabor/originalidade e eu e a Margarida comemos a Romy (bacon, alho francês, molho de mel e carile rúcola com salada de rúcola, couve roxa, cenoura e pimento) todas as vezes que cá vamos porque... É impossível resistir e pedir outra coisa. Contudo, tem vindo a tornar-se mais cara e agora já anda nos 6.90€, que justifica perfeitamente a qualidade mas que continua a ser caro para uma refeição que apetece consumir pelo menos uma vez por semana.



Tirei um pequeno excerto descritivo do site da Lifecooler por causa de uma particularidade interessante em relação às mesas: são elas que dão personalidade aos diversos espaços dentro deste espaço (espaçoception?) e eu nunca tinha pensado nisso de maneira a que este fulanos (que é, como quem diz, simpáticos repórteres) mostraram-me a luz:

As mesas são inspiradas em cidades que lhe dão o nome. Desta forma, temos Buenos Aires, que é um recanto com sofás e mesinhas de apoio, as quais dão a sensação de estar em casa; Marraquexe, um divã alto aconchegado entre três paredes, com uma mesinha de levar o pequeno-almoço à cama no meio - é perfeita para o chá; Viena, de madeira trabalhada e a única com as cadeiras todas iguais, dá para as refeições (...) as restantes designam-se de Sydney, Moscovo e Fiji.

Eu gosto especialmente do lado Marraquexe, é a minha cara chapada por nos obrigar a comer de maneira menos convencional, de pernas pendentes, com o tabuleiro no colo, mirando todos os outros clientes, ou de pernas cruzadas e prato no divã, a olhar para a nossa companhia.



Vim cá com a Margarida jantar antes de irmos ver o concerto alucinante do Filho da Mãe no Teatro Maria de Matos, que por sinal também tem um café, mas essa é outra história.

O Pois faz parte da iniciativa de Bookcrossing e todos os livros arrumados nas estantes, mesas e mãos das pessoas podem ser usufruídos e até trocados por algum que se tenha em casa.




Este é também um óptimo sítio para se estar a estudar e a trabalhar (talvez mais trabalhar porque às vezes pode tornar-se barulhento). Tem wifi da casa e apanha o hotspot da Zon se não me engano. Imaginem isto: podem poisar o vosso portátil comodamente na zona Viena enquanto degustam um apfelstrudel e sentem aquele ambiente porreiro na pele apreciando um calorzinho de fim de tarde que vos bate na testa.

Por falar em strudel, esta casa faz-me sempre lembrar uma personagem alemã que conheci chamada Malte e que me ensinou a pronunciar correctamente o nome deste doce complicado e por isso vou passar-vos conhecimento precioso por aqui!

Arremetam também para o site deles porque tem as ementas da semana! Aqui. Go go.
Agora com novos horários das 11h às 22h todos os dias menos segunda.

Não esperem pela demora porque irei ter mais uma post sobre o sítio, é daqueles que merece, e aqui vai um cavalinho de Buenos Aires para o provar.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pastéis de Belém



É estúpido não ter tratado deste cliché até agora? Mal costumo vir aqui, nunca me tinha aventurado pelas profundezas dos pastéis, este sítio nunca mais acaba, será possível? Senti-me muito pouco motivada para fotografar salas com mesas cheias de gente, e por isso apanhei alguns pormenores mimosos.

Mas tenho que dizer: não sou fanática do pastel de nata e acho que o preço anda a aumentar sorrateiramente, pelo menos o Drocas achou isso, ele que comeu dois pastéis (2.10€) em três tempos enquanto eu bebericava o famoso galão e lhe tirava incomodativas fotografias em plena mastigação desta receita pré-histórica. Ninguém gosta destas pessoas chatas, pois bem, muito tempo a viver na floresta fez com que me entusiasmasse de forma extrema com este aparelho tecnológico a que chamam Canon.





A fábrica dos pastéis está também escondida no covil, é daí que vêm as fornadas quentinhas para os turistas, este espaço dá-me uma sensação de sociedade massificada:
- entrar no local enunciado pelo guia turístico;
- ficar na fila e esperar;
- olhar para os habitantes locais até chegar a sua vez;
- pedir encomenda num português arranhado;
- esperar pacientemente pelo pacote;
- gritar com os filhos;
- pagar e dizer "ouberigádou";
- achar a sua pronuncia um máximo;
- ir sentar o rabo gordo numa das seiscentas mesas;
- sentir-se medieval, gordo, e ligeiramente português por estar a comer um Pastel de Belém.
Nota: isto aplica-se também aos tugas, menos a parte do "ouberigádou", que às vezes nem sequer existe.




De tanto olhar para cima para fotografar luzes e detalhes interessantes deparei-me com um buraco no tecto que tinha duas janelas, uma delas com roupa pendurada (parecia roupa interior). Não sei se isto é algo decorativo para confundir quem cá vem ou se há ali qualquer coisa a passar-se, se calhar mora ali a besta sagrada que guarda a sete-chaves a receita famosa, pronta a comer quem ousar roubar tal tesouro. No entanto, eu que já fiz uma pesquisa extensiva lembro-me de uma vez encontrar qualquer coisa a dizer que o segredo era fécula de batata em vez de farinha de trigo e usar um pouco de banha de porco na massa. Será? O dragão foi amansado.



Fui dar mais um giro rápido pelo labirinto: relíquias antigas em todo o lado, pratos, vasos, azulejo semelhante ao da minha casa de campo, máquinas registadoras old school, quadros, um peixe estranho e sotaques estrangeiros. Passámos por tudo isto e fomos embora. Partimos, assim, do santo templo!