terça-feira, 26 de junho de 2012

Pensão Amor



Tenho uma relação curiosa com este espaço.

A primeira vez que ouvi falar da Pensão Amor foi quando li que ia abrir em Novembro de 2011 juntamente com dois novos bares: o Povo e o Bar da Velha Senhora. Era algo diferente que prometia voltar a dar vida ao Cais Sodré e que beneficiava também de uma posição estratégica muito perto do terminal de tudo o que é transporte público. Todos estes novos sítios, juntamente com a discotecas, ficam situados numa só rua: a rua Nova do Carvalhal, alcunhada de rua cor-de-rosa pela sua recente tonalidade machona, onde se juntam agora as gentes finas caviar e os trambolhos que gostam de morder os mamilos da Fabiana, a stripper do Viking. Este é um casamento de classes improvável, mas que ainda assim coexiste em moderada harmonia debaixo da rua do Alecrim.

Foi precisamente no final de Novembro que fiz também uma viagem para Budapeste. Durante uma semana deambulei pela cidade seguindo as passadas do meu amigo Nuno, para onde ele ia eu ia também, e assim conheci a vida estudantil, a vida citadina, a vida boémia... Quando voltei, a Pensão Amor pareceu-me uma fraca imitação dos Ruin Pubs húngaros de que tanto tinha gostado. Acabei por achar este novo sítio menos espectacular do que achavam as 300 mil pessoas que o enchem quase todos os dias. Pois é, das vezes que cá vim de noite mal me podia mexer e acabava sempre por ir embora irritada, e os preços, esqueçam os preços, decididamente só para gente caviar.



Contudo, ao contrário do que o meu discurso parece indicar, gosto muito deste sítio nas alturas certas, como foi esta última ocasião, em que vim mais cedo para assistir à inauguração do Festival Silêncio, começando com uma espécie de comentário moderado entre vários participantes sobre o "Poder das Palavras", sendo um deles membro dos Buraka Som Sistema. 

Eram nove da noite e as réstias finais da luz do dia faziam com que o calor fosse ainda mais insuportável.



A Pensão Amor divide-se em várias salas tendo cada uma a sua particularidade interessante. Antes de entrarmos pela rua do Alecrim (a outra entrada é mais abaixo na rua cor-de-rosa) há um pequeno balcão esplanada com um dos bares que servem bebidas e alguns petiscos. Depois abrimos a porta para uma salta cheia de objectos, mesas, cadeiras, quadros, espelhos, posters, um papel de parede que invoca cabaret, tectos meios kitch, candeeiros, etc.

Mais adiante entramos no espaço onde estava a decorrer o festival e onde há espaço para quem quer dançar. Há também um bar (e tem preços de dia e de noite, watch out!), um sofá grande, várias varandas onde podemos ir apanhar uma lufada de ar fresco e uma cabeça de veado que emerge da parede, atingida por um foco luminoso que a destaca ainda mais. Este pormenor gritava Ruin Pub por todos os lados.



Continuando, temos a casa-de-banho que, verdade seja dita, é extremamente interessante do ponto de vista decorativo. Mais à frente entramos nas escadarias que vão dar aos quartos de aluguer que funcionam um pouco no esquema da Lx Factory (se não me engano).




Avançando um pouco mais há mais uma sala de estar com um varão de striptease no meio, tecto psicadélico e sofás leopardo, aqui também se situa a livraria erótica onde quem quiser pode vir comprar livros e uma loja de acessórios sugestivos chamada Purple Rose num corredor à parte forrado a pêlo.





Está aberto de segunda a quarta das 12h às 02h, quinta e sexta das 12h às 04h e sábado das 18h às 04h.

domingo, 24 de junho de 2012

Quiosque Banana Café




A reabilitação dos quiosques da Avenida são uma das iniciativas que mais me encheram o coração nos últimos tempos. Esta descida percorro-a frequentemente a pé e quando está frio esta caminhada serve para me aquecer o corpo. Em dias de calor, dou as boas vindas ao Sol e vou saltando entre luz e sombra, jardim e passeio. Gosto especialmente de espreitar para dentro do AdLib (módica quantia de 20€ por um brunch) e ver as pessoas a tomarem o seu pequeno-almoço chique com as mesas cheias de compotas e pãezinhos de todos os tipos. Contemplo de fora, gosto de analisar.

Agora deram-me ainda mais razões para fazer este percurso, ver as esplanadas com gente é algo que me agrada, há vida no jardim, pouco a pouco Lisboa vai regenerando as suas feridas, mas são estes pequenos passos que levam a algo grande.

O Banana Café repete-se duas vezes: uma perto do Marquês de Pombal e outra já junto aos Restauradores, eu fui a este último.





Cada um dos quiosques tem a sua "alma", aquilo que o caracteriza a si e ao seu serviço. Confesso que a minha ideia de serão era ir para o outro lado da rua, onde se situa o quiosque da Time Out, e ouvir uma jazzada tocada por um dos alunos do Hot Club. Contudo devido à divulgação facebook (este é o único com facebook próprio) estava já bastante cheio e pelo menu (tentam inovar mas não têm o básico) acabámos por ir para o outro, e não nos arrependemos, as tostas são gigantes e dão para dividir por duas pessoas ou por três que comam pouco (vêm seccionadas em três partes).

A tosta mista custou-me 3.50€, não é a melhor do mundo confesso mas têm outras variedades, para além de saladas e empadas (que vi provarem e aprovarem). Bebi também um chá frio (1.80€), algo que tenho vindo a apreciar cada vez mais o que me surpreende porque não gosto de chá quente. A Carina pediu um sumo natural de abacaxi que ficou quase ao preço da tosta (2.80€). Decidi pôr a última foto aqui porque ainda apanhou alguns preços pelo que pode vir a ser útil.

Domingo a quarta, das 09h às 11h e de quinta a sábado das 09h às 02h da manhã.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Miradouro do Adamastor



Já escrevia Camões:

Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.

O Miradouro do Adamastor chama-se, na realidade, Miradouro de Santa Catarina, tendo ganho esta alcunha devido à estátua erguida no pequeno jardim que dele faz parte e que retrata a mítica criatura dos Lusíadas. Este é sem dúvida o mais insólito dos miradouros, pode não ter um dono peculiar como o do Monte Agudo, mas as gentes que o frequentam são tão diversas que fazem qualquer artista freak sentir-se completamente banal, principalmente de noite, altura em que enche até às bordas.


É impossível não sair de lá com histórias para relatar, ou porque algum maluco veio contar-nos a odisseia completa da sua vida, ou porque um bando de galeses decide celebrar uma despedida de solteiro em tronco nu tomando banhos de cerveja, enquanto o futuro marido nos aborda com um sorriso de desculpas e lamenta o facto de nos ter encontrado usando jardineiras amarelas à Super Mário. Enfim, dependendo da pessoa e do estado de espírito, podemos ter paciência ou não para os aturar, o primeiro não nos largava e teve de ser enxotado pelos senhores do quiosque, enquanto que o segundo nos proporcionou uma conversa bastante cómica e agradável que terminou com um: We're not from England! We are Welsh, and we couldn't care less about them and football. Kinda like Portugal and Spain. You know soccer? We are all soccer players!



O que me sabe melhor neste local é a sangria, os preços são óptimos, se não me engano a ordem era mais ou menos esta: 1€ o tamanho mais pequeno (22cl), 1.5€ o médio (33cl) e 2€ o maior (50cl). A cerveja deve ser a mesma coisa. Depois têm uma selecção de salgadinhos (coxinhas, rissois, croquetes, empadas) que rondam o preço de 1€, o que significa que com 2.5€ se tem um almoço ligeiro à tuga: a jola/sangria e o salgadinho enquanto contemplamos uma vista que vale bem mais do que isso. Ah, e uma tosta mista custa 4€ o que até achei um pouco caro mas até dá para dividir por duas pessoas que não comam muito (também conhecidos como "os passarinhos").


Quando lá fui reparei que a estátua estava agora adornada com um coração vermelho. Voltei a dar de caras com estas intervenções ao pé do teatro S.Luís e próximo dos quiosques da Liberdade, sempre corações, sempre em estátuas, fui pesquisar e a iniciativa chama-se Aqui Bate um Coração, deixo o link para quem quiser aprofundar.

Aberto todos os dias das 10h às 04h da manhã.

domingo, 17 de junho de 2012

Vertigo

Quando saímos do Royale continuámos com a panca de ir ao Vertigo. O facto de termos sido enxotadas foi chato mas compreensível, o Tarzan não guarda rancores de ninguém, especialmente de pessoas que durante o seu tempo de trabalho se devem ter confrontado com os clientes mais bestas de sempre, eu não quero ser besta, as bestas estão na selva.




As pessoas tinham acabado de ir embora do evento que lá estava a ocorrer e por isso tínhamos o espaço só para nós o que é agradável mas ao mesmo tempo um pouco intimidante (há sempre a responsabilidade de servir bem o cliente, mas será que também há a de ser um bom cliente? Acho que a sinto na pele). Deu também para tirar fotos sem gente mas os vários tipos de luminosidade que vinha de todos os lados acabaram por não ajudar nada.

Numa rápida vista de olhos ressaltaram logo uma série de quadros antigos pendurados nas paredes e as sardinhas dos Santos Populares que estavam expostas como decoração. Chamo especial atenção para uma em particular.



Olhando para cima é impossível não perder algum tempo a tentar perceber o intrincado padrão do tecto: um vitral repleto de motivos florais, alguns animais e possivelmente um toque inca. Este é um dos tipos de luz que está presente no local, quem vem em tonalidades coloridas e que lhe confere uma aura mais ostentosa. Há também a luz natural que vem das janelas (mais branca e brilhante) e a das lâmpadas dos candeeiros (mais amarelada). Parece haver luz por todo o lado mas esta combinação acaba por resultar num ar soturno mas imponente e com um toque tabernoso. Há também umas misteriosas escadas em caracol para o andar de baixo que nos fazem questionar se mora lá alguma espécie de goblin ou se é só um andar que abrem esporadicamente para eventos (talvez eventos que incluam goblins)



Escolhemos uns sofás simpáticos ao canto para nos sentarmos, perto de uma suposta tomada funcional, mas que rapidamente decidimos deixar de usar devido a uns barulhos crepitantes que fazia cada vez que colocava o íman do carregador em contacto com o Macintosh. Havia também um tabuleiro de damas mas deduzi que provavelmente estava incompleto, tenho vindo a reparar que jogos em cafés não sobrevivem muito tempo, infelizmente.




Pedi um galão e a Margarida uma dose de açaí (um sabor que só posso descrever como uma mistura de iogurte de frutos do bosque com papa de bolacha), o açaí é uma fruta brasileira super nutritiva (ou assim dizem) que agora anda na moda e que ainda tem um preço bastante puxado, o que é provável que derive do facto de já vir numa espécie de polpa iogurtada densa e não como baga, a sua forma original. Não se deixem enganar pelo aspecto, aquilo parece gelado de chocolate à primeira vista mas não, não se enganaram no pedido e é mesmo o que vos puseram à frente por isso comam e sintam-se super potentes.

Li em algum lado que tinham brunch ao domingo. Eles não têm website que eu saiba mas têm o omnipresente facebook. Cá o disponibilizo, para ficarem a par de algumas ementas do dia e de possíveis acontecimentos ou mudanças de horários (eh eh). Enfim, pagámos e lá deixei um pequeno gato temático, tal como fiz no Royale, desenhado numa folha do meu diário gráfico, em cima da mesa.

Está aberto das 11h à meia-noite, todos os dias menos segunda-feira.



Royale Café



Foi já há uns meses, tinha sido um dia atarefado em que acordei mais cedo para ir à loja dos sapatos Paez com o Zé, ao pé do Museu de Arte Antiga, porque a revista TimeOut oferecia um daqueles vales de “leve dois pague um”. Como seria de esperar, no primeiro dia deve ter ido lá toda a gente e agora já só tinham dois pares do meu número que, estranhamente, tinha descido dois tamanhos (na filosofia Paez temos todos os pés mais pequenos). Já para não dizer que só sobravam os mais horríveis.

Como não gastei dinheiro em sapatos fui até ao Royale, um sítio que sabia que ia ultrapassar o meu budget de restaurantes mas que resolvi perdoar, a verdade é que nunca me tinha "oferecido um almoço" à maneira, e assim paguei 10.85€ pelo polvo à lagareiro mais delicioso de sempre, super tenro, numa cama de grelos, banhado em azeite e acompanhado com batatinha ao murro com a casca enrugada (e eu nem sou grande fã de batata).



O espaço é muito agradável e felizmente tive lugar na “esplanada”. Esta dita esplanada consiste numa pequena varanda cercada por um alto muro coberto de trepadeira onde cabem cerca de 8 mesas apertadinhas de duas pessoas. É um espaço alternativo, não perde a sua aura acolhedora e de privacidade, adoro pequenos locais, talvez tenha o contrário da claustrofobia, estes dão-me uma sensação de segurança e não de sufoco.

Recentemente tive de regressar ao Royale depois de me mandarem embora do Vertigo por estar a haver uma festa privada, dizendo-me que voltasse às 15h da tarde. Não foi propriamente uma coisa agradável mas lá me conformei.



Estava tão mal da garganta que só conseguia comer sopas. Uma sopa de beterraba a 3.30€ não é a coisa mais barata que se pode pedir mas infelizmente era a única coisa que conseguia comer do menu e já não podia conter a fome, era boa mas não digo que não me fiquei a babar para o arranjinho de pão de pita e molho tzatziki da Margarida.




E lá se foi mais um serão de trabalho, ficámos no interior por haver tomadas mas não deixei de ir à "varanda" no final para fotografar alguns pormenores curiosos que eles lá tinham. Parecem achar especial piada a animais de loiça, pergunto-me porquê, se calhar devia ter metido conversa mas tenho de confessar que não me senti à vontade o suficiente e as pessoas que estavam a comer lá fora olhavam para mim desconfiadas, provavelmente com medo de serem apanhadas pela minha câmara.




Há um quadro de ardósia à frente do balcão com alguns desenhos (alguns de clientes pelo que parece), que denotam que eles são mais abertos à convivência do que fizeram parecer quando lá fui, talvez para a próxima, a diversão da tarde foi sem dúvida observar um petiz que andava de gatas a martelar o chão com o telemóvel carote do pai. Ah, a deliciosa ingenuidade!

Aberto de segunda a sábado das 10h à meia-noite e domingo até às 20h. Para mais informações de preços e melhores fotografias do espaço consultem o website deles que, e isto é uma grande qualidade, tem lá tudo o que podem precisar de saber.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Alface Hall



Há várias coisas através das quais se pode caracterizar um sítio/experiência, e que costumo ter sempre em conta, mesmo que não as escreva necessariamente num papel e lhes dê notas de 1 a 10, acho que é um processo emocional, "qualificações sentidas".

Essas coisas são:
- O espaço físico interior (portanto a arquitectura/design);
- O local geográfico onde está situado;
- As pessoas que fazem parte desse espaço;
- A comida (e os preços dessa comida, embora menos relevante);
- A companhia que levamos connosco;
- Os extras (música, paisagem, objectos interactivos, eventos, etc).

Quando um local consegue satisfazer todos esses requisitos com sucesso sabemos que estamos num sítio perfeito porque o sentimos na pele. E foi isso que senti aqui, das duas vezes que cá estive.

A primeira vez que cá vim parar foi completamente por acaso, tinha começado uma saída para o bairro um pouco mais cedo do que o habitual e, nos nossos deambulanços à procura de um sítio para sentar e conversar, passámos por uma larga porta musical: jazz! Quando há música à pala nunca se deve hesitar. Arrastei imediatamente toda a gente que estava comigo lá para dentro, pedimos uma espécie de granizado de limão com vodka que estavam a servir (deixaram-nos provar primeiro) e sentámo-nos numa pequena mesa redonda.

Da segunda vez voltei com a suspeita do costume para uma sessão de trabalho. Arranjámos um sofá escondido junto a uma tomada, num cantinho ao pé do "palco", e montámos o estaminé. Há Wifi gratuita (e Fon Zon incluida).



Como não estava ninguém ainda ficámos à conversa com o rapaz que nos estava a atender, fiquei a saber que estão a ser tomadas medidas para evitar o botellón e que as mercearias deixam de poder vender álcool depois das oito da noite. Não sei se se pode classificar esta informação em algum tipo de conhecimento (conhecimento de vida de bairro?), mas adoro saber estes pequenos factos, ou tentar perceber a maneira de pensar de cada pessoa que gere cada espaço, tal como falei com o Marco do Grémio do Carmo ou com a rapariga do Bake the Difference. Personalidades que de algum modo se relacionam com o local.




É incrível o número de pormenores do Alface e as maneiras como reaproveitam certos objectos, as t-shirts que estão para venda, por exemplo, em vez de serem exibidas de forma enfadonha servem também de decoração, estando penduradas numa corda de secar por cima das nossas cabeças, preenchendo assim o espaço vazio gerado pelos altos tectos.

Por cima da porta de entrada há uma mota estacionada comodamente no parapeito interior da janela. E depois temos bombas de gasolina antigas, telefones, garrafas, rádios, câmaras, bonecada, cadeiras de barbeiro (o meu detalhe favorito sem dúvida) e mais.



Entre mesinhas e sofás, podemos escolher aquilo que mais se adequa ao que viemos fazer: se foi ficar num transe vegetativo a ouvir uma deliciosa jazzada, se foi trabalhar, comer tostas, dizer parvoíces, ou tudo ao mesmo tempo (o nosso caso).

Acaba por ser também um espaço mais multicultural por estar ligado ao Alface Hostel, ouve-se falar português mas não só, bastantes estrangeiros passam por ali a relatar as suas aventuras. É interessante como a palavra "hostel" parece aumentar o à vontade que temos para interagir com outras pessoas (as que gerem o espaço e as que o frequentam), acabamos por sentir menos pressão porque achamos que é mais habitual nestes sítios isso acontecer. Contudo, ninguém diz que num café não podemos simplesmente pôr conversa com a pessoa do lado, mas pode acontecer não sermos muito bem recebidos.




Pedimos uma mistura da tosta de brie e presunto com a tosta mista (ficou assim uma tosta mista mas com queijo brie) que custou 4.5€, e tenho de dizer que estava de chorar por mais e que a minha foto está a milhas do sabor. Antes tinha pedido uma limonada (e lá se foi o preço, tenho-me esquecido de apontar). Mal sabia eu que esta seria a minha última refeição de jeito antes de ter a maior afta da minha vida e ter de passar cinco dias a sopas e iogurtes.




Pelas nove horas começou a música (todos os dias pelas nove/dez horas há jazz mas é possível que seja encurtado para três ou quatro dias por semana). Foi mágico, se calhar estou a exagerar, se calhar era exactamente aquilo que precisava, não sei, foi melhor do que algumas sessões de OutJazz a que tenho ido.



Antes de irmos embora tinha começado a desenhar um gato em cima de uma alface, decidi que devia oferecer-lhes essa "pequena parte de mim". Ao fazer isso apercebi-me que esta podia ser uma boa maneira de divulgar o Tarzan Urbano sem me tornar numa daquelas pessoas chatas que está sempre a mandar convites por facebook. E assim comecei a desenhar "Cheetas", gatos relacionados com os sítios onde ia, e a deixá-los lá. Ganhei também um bom pretexto para desenhar, espero que isto dê algum tipo de resultado favorável e que seja a minha maneira de "mudar o Mundo um bocadinho".

Aberto das 16h à meia-noite.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Miradouro de Monte Agudo (2)

Podem encontrar a primeira post sobre este local aqui.



Da segunda vez que cá vim trouxe a Rosa. A muito custo conseguimos arranjar local para pôr o carro ao pé da pretensiosa rua de Liverpool. O engraçado é que apesar das coisas continuarem tal e qual eu me lembrava, havia ligeiras alterações que se fizeram notar: a música não era tão zen, agora era uma longa composição de meia-hora de Keith Jarrett que tocava, aparentemente não é qualquer um que escolhe este arranjinho musical, denota algum saber orgulhoso, o que viemos a confirmar mais tarde.




Havia também novas cadeiras colocadas perto da beira, viradas para o arbustedo denso que cobre a paisagem. E depois o resto que já cá estava da última vez: revistas, mantas para o frio, o sofazinho de almofadas onde me tinha deitado outrora, as mesas da esplanada com alguns guarda-sois e alguns clientes tranquilos misturados com as personagens duvidosas que rondam o sítio (as gentes que frequentam este miradouro não têm propriamente o aspecto mais caridoso). E cães claro, sempre cães.



O dono continuava com o seu je ne sais quoi do costume, descurando um pouco a clientela para dar conversa a um amigo, mas não sei porquê isso não me apoquentou muito, não aqui, cada um tem direito a ter a sua personalidade desde que se seja genuína, isso acaba por fortalecer a caracterização de alguns espaços, mesmo quando implica torcer o nariz quando pedi um galão a seguir ao capilé, e tinha toda a razão, não podia dar bom resultado e eu fiquei com a sensação que tinha acabado de beber um oceano inteiro (não podia adivinhar que o galão era gigante).




Aqueles senhores copos devem chegar a quase meio litro, sim, o galão veio no mesmo tamanho de copo do que o capilé, e os preços são bastante em conta para o tamanho (já não me lembro quanto paguei mas foi muito pouco para aquela quantidade) de qualquer dos modos fotografei também o menu que estava escrito no quadro de giz para informação complementar.



Sentei-me a trabalhar num pequeno conceito que me tinha sido sugerido pela própria Rosa numa ida ao Casual Lounge: a Puta de Guarda-Chuva. Segundo ela, algo que nunca tinha encontrado na vida e que avistou numa noite chuvosa, perto do Restelo. Esta personagem quase que tem parentesco com o Abominável Homem das Neves. E foi assim que surgiu o que denominámos como Poesia de Banco de Jardim, da qual faz também parte o Amolador de Facas, uma personagem nostálgica de infância, e os Trompetistas Melancólicos de Máscara da Baixa-Chiado. Mais personagens surgirão.

Baptizei também definitivamente o sofá das almofadas como o "meu" sítio. Talvez precise de experimentar outros assentos mas aquelas almofadas chamam pelo meu traseiro.



Não podemos deixar de finalizar uma visita a um miradouro sem observar a paisagem. A minha vista preferida de Lisboa continua a ser a da Nossa Senhora do Monte, mas esta também não é nada de se deitar fora.




Pequena nota que pode ser útil: o sítio tem casa-de-banho, está é agregada ao quiosque, quem olha de frente é no lado esquerdo, caso estejam a desesperar já sabem.

Aberto todos os dias das 11:30h ao pôr-do-sol, como diz no menu.