quarta-feira, 18 de julho de 2012

Frutalmeidas



Ia escrever sobre como o Frutalmeidas, para mim, é um sítio difícil de explicar. Tão simples. Uma mística intrigante rodeia aquele local que à partida não parece diferente de muitos outros.

Como ganhou este sítio tanta popularidade? Seria a mistura de mercearia com café algo inovador e prático que fazia os compradores aproveitarem e ficarem para lanchar com os seus sacos de compras? Seria barato? Depois de uma conversa oportuna fiquei a perceber que teve os seus momentos gloriosos algures no passado e sim, era diferente.

As coisas mudam, mas como se costuma dizer, as primeiras impressões são tudo. O meu pai continua a recordar o local, como muita outra gente, e os pastéis de massa tenra ainda dão fama à casa. Por isso quem lá foi no seu auge continua a recordá-lo com aquele carinho especial e aquelas frases que começam por "Iiih! Esse sítio!"


Gosto destas recordações. Serão só os portugueses que se mantém fiéis ao seu paladar de infância? A minha mãe ainda recorda os bolos Garibaldi que comia com os amigos e o meu pai não esquece os seus Russos cremosos que toda a familia ia buscar num certo dia da semana, e que o meu tio ainda consegue arranjar numa pastelaria especial em Estremoz. As coisas que se fazem por uma recordação de sabor! Ser jovem novamente através das texturas de um alimento.

Eu lembro-me dos queques de laranja que o meu avô me trazia, quando nos encontrávamos no café do costume. Eu devorava-os num ápice e tirava sempre um bocadinho para dar ao gato, que surpreendentemente adorava.


Mas voltando ao Frutalmeidas, para além dos pastéis e do bolo de morango, a grande variedade de sumos naturais não deixa nada a desejar. Com o calor que estava acabei por experimentar dois deles, melancia e ameixa, por 1.50€ cada. Este é um espaço que está para os sumos como o Santini está para os gelados, se bem que nunca fui grande fã do Santini (eu sei, mas o que posso fazer?).

Para acompanhar escolhi o dito pastel (1.20€) e a Sara foi para a tarte de amêndoa (1.75€). Não havia muita escolha e perguntei-me se 17h seria uma altura demasiado tardia para cá vir lanchar, mas a experiência não vale só pela comida e, apesar das minhas frustrações fotográficas, acrescentei feliz mais um check à minha infindável lista de sítios para visitar que continua a crescer em vez de diminuir.

Ao contrário dos espaços mais modernos que parecem ter curta longevidade, o Frutalmeidas, com mais de trinta anos, parece estar cá para ficar.


Aberto de segunda a sábado, das 8h às 20h.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ó-Chá




Ultimamente tenho ganho a mania de pesquisar casas de chá e isso culminou noutra pequena lista de sítios a visitar. Fiquei bastante bem impressionada com As Vicentinas e queria repetir a experiência, o Ó-Chá já andava a badalar na minha cabeça há algum tempo e tinha chegado finalmente a hora de ir averiguar este local.

Pequeno mas cheio de adereços, a primeira coisa que reparamos ao entrar é que há objectos interessantes em todo o lado, isto porque esta casa funciona igualmente como loja, com uma variedade incrível de chás para venda que podem averiguar melhor no seu website.




Um amigo meu recentemente falou-me num chá chamado Matcha. Não percebo muito de chás porque, para dizer a verdade, nunca gostei deles e achava sempre que beber chá era o equivalente de beber água com pó aquecida. Acabo por me deixar guiar pelos conselhos das pessoas e depois assassino o chá para o tornar bebível, normalmente com leite e mel. Este Matcha japonês parece-me uma boa próxima escolha, quero habituar-me e irei habituar-me, embora continue sempre fiel à ala do café.

Sentei-me juntamente com a Patrícia numa mesa junto ao vidro, escolha que ponderei se seria a melhor dado o calor que estava, mas acabou por ser tolerável. Decidimos fazer uma vaquinha e dividir duas tostas: uma de salmão fumado e queijo de ervas (4.80€) e outra de brie, mel e rosmaninho (4.50€).



Enquanto não vinham as tostas contemplei um pouco mais aquilo que me rodeava. Máscaras adornavam o sítio com um tema assumidamente oriental, um quadro destacava-se não por estar fora de contexto mas talvez por estar fora da localização geográfica dos outro objectos: era uma representação do chapeleiro louco, ou pelo menos parecia ser, mas uma versão mais "acriançada". Havia motivos floridos, cerâmica delicada, bules, montes de bules, objectos utilizados nas festividades chinesas e japoneses, e claro chá, enfim, um mundo para explorar.





Vieram as tostas. Comi a de brie e mel primeiro e rejubilei de felicidade. Encontrei aqui uma das melhores tostas que alguma vez comi, prazer em cada garfada, desejei que a dita nunca mais acabasse. Depois daquela doçura, a tosta de salmão parecia-me neutra. Não deixem o vosso paladar ser viciado por este ingrediente apícola. Sejam mais inteligentes do que eu e comam os doces no fim, aliás, como dita a tradição.




Como sempre e para poupar dinheiro teimei em passar a refeição sem bebida, mas rapidamente mudei de ideias perante a sugestão de um chá frio de erva-príncipe com gengibre e mel (2.50€). Venha ele. Nunca tinha visto um chá frio com espuma devo confessar, e a sua cor assemelhava-se à do galão de café pouco forte. Bebi-o de um trago, restando apenas o pequeno travo a gengibre picante na ponta da língua: receita a repetir em casa.

Apesar de termos ido para as tostas o espaço oferece também menus diários que devem rondar os 7€. A julgar pela qualidade do resto deduzo que não devem desiludir.




O Ó-Chá é discreto visto de fora e íamos-lhe passando ao lado, mas uma vez lá dentro estamos noutro mundo. A panóplia de coisas torna-se confortável e justificada. A tosta foi das melhores refeições que já tive e automaticamente lembrei-me da minha vítima número um de escapadelas, que certamente vai partilhar da minha opinião.

E por falar em fazer uma vaquinha:

Nas décadas de 20 e 30, quase nenhum jogador de futebol ganhava salário. Muitas vezes, a própria torcida reunia-se a fim de arrecadar, entre si, um prémio para recompensar o bom desempenho dos jogadores. O dinheiro era pago de acordo com o resultado obtido em campo.

Os valores desses prémios associavam-se aos números do jogo do bicho, uma espécie de loteria, criada no fim do Império. Se conseguissem 5 mil réis, por exemplo, chamavam o prémio de “cachorro”, pois o número 5 é o número do cachorro no jogo do bicho. Vinte e cinco mil, o prémio máximo, era chamado de “vaca”. Assim, surgiu o termo “fazer uma vaquinha”.


Talvez não tenha usado a expressão de forma mais correcta mas cá em casa usa-mo-la para dar e vender. Oh. Cá está outra. Se procurar a origem da cada expressão que utilizo então estou feita ao bife.

De segunda a sábado das 12h às 20:30h. Fecham aos domingos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

As Vicentinas



As Vicentinas ou Casa de Chá de Santa Isabel são um salão de chá que se iniciou na década de 50 como salão de costura. instalado num antigo armazém de bananas que foi cedido pela câmara ao grupo Vicentino para que pudesse fazer o seu ofício e gerar receitas para ajudar carenciados. Neste local realizavam-se também desfiles para mostrar as peças feitas, sendo aos convidados oferecido chá e scones, moda que começou a pegar e que foi o início do que é hoje esta casa de chá.

Pergunto eu: o que dá mais prazer? A aquisição de um novo vestido ou a degustação de um scone amanteigado? Depende da pessoa suponho, mas aparentemente a comida superou os desfiles de moda.



A entrada situa-se diante de um mini mercado do qual eu nunca ouvi falar, é discreta e podemos facilmente passar-lhe ao lado, mas impõe o seu respeito com uma sinalética que declara desde logo que aquele edifício tem história.




Entrando lá dentro deu a impressão de ser um espaço de habitués. Às 16h não havia ninguém excepto duas senhoras que estavam sentadas perto de nós. Gente jovem havia muito pouca, é uma casa típica onde pessoas maioritariamente mais velhas gostam de vir ter o seu momento zen e consumir chazinho, muitas delas trazendo os pais idosos.

Nunca discutir com as preferências sapientes dos avós. Eles sabem o que é bom ou, pelo menos, o que é original.




Uma das coisas que é impossível não notar aqui são os motivos religiosos. Ressaltou-me logo à vista um Jesus crucificado pendurado bem alto na parede e outro comodamente encostado na sua almofada olhando-nos com ar arrogante. Dir-se-ia até que teria estado a consumir uns scones à patrão e agora relaxava apenas de barriga cheia. Senti pena do Jesus superior. Aposto que durante todo o tempo que serviu de decoração a esta casa de chá desejou secretamente sair do seu suporte e ir sentar-se ao lado da sua representação mais jovem. Enfim, passei-lhes à frente e fomos sentar-nos num agradável espaço interior/exterior. A esplanada d'As Vicentinas tem a vista celeste coberta pelas copas das árvores e espaço para albergar ainda algumas pessoas, que bem que aqui se está, apesar de continuar com aquela pequena sensação de "serei jovem demais?".




Desta área era possível ver através das janelas para aqui viradas as outras salas: havia uma pequena sala cujas portas tinham flores, havia uma mesa, móveis e um cabide curioso e junto a ela havia acesso para um espaço que não funcionava sempre mas que pelo material que lá estava deu para perceber que a costura não desapareceu completamente em favor dos scones: eles ainda realizam workshops.



Atrás de mim estava uma mesa com os bolos do dia, algo que aconselho a não ver quando se está com fome, mas se querem mesmo sofrer sempre podem ver no facebook o que estão a perder. Para além disso costumam pôr lá a ementa do dia e talvez consigo informar-vos dos seus futuros eventos, se os houver.



Para consumo pedimos dois chás, um deles que seria um dos melhores que alguma vez bebi (frio claro) e o outro era o chá da casa (chá preto e limão se não estou em erro) que custou 1.50€. O que me soube que nem ginjas era um chá de frutas diversas, docinho mas não demais, saboroso mas não tão óbvio assim, fresco, uma maravilha.

Pedi também scones para acompanhar (1€ pelo primeiro, que traz manteiga, e 0.90 pelos que seguirem). Não resisti a repetir a dose, vieram mesmo a calhar, quentinhos, amanteigados à vontade do freguês, há muito tempo que não tinha um tea time como deve de ser e não me arrependi nada, aliás, tenho é de o fazer mais vezes.




Como o tema de conversa de hoje esteve de algum modo relacionado com comida decidi deixar aqui a grande questão que foi debatida: porque é que o Hurley da série Lost não emagrece nunca enquanto está na ilha? Uma das hipóteses foi ter problemas de tiróide mas honestamente ainda não percebi ao certo o que é que isso implica e se mesmo tendo esses problemas não seria possível emagrecer passando fome como ele passou. Ou simplesmente é o efeito da ilha, mas essa é a resposta fácil e parola.

Aberto de segunda a sexta das 11h às 19h e sábados das 15:30h às 19h.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Orpheu Caffé

Orpheu, revista vanguardista antiga na qual participavam ilustres figuras como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, entre outros escritores e pintores do início do século XX. A mesma inspirou uma editora, Orfeu Negro, com uns livros que têm capas que apetece comer. Hoje conheci uma outra Orpheu e fiquei muito feliz por o ter feito.




O espaço surpreendeu-me logo à entrada, é impossível não notar naquele papel de parede um pouco kitsch mas que ali assenta que nem uma luva. A luz dos candeeiros chama a atenção sobre as pequenas folhas que pendem de cada um deles: é um pedaço de literatura, honrando a origem de seu nome, Orpheu.

Decidimos ficar numa mesa grande quadradona perto da entrada, espaçosa o suficiente para podermos fazer o nosso estendal de trabalho, três designers precisam de espaço. A Lana Del Rey embaláva-nos com as suas canções anestesiadas que parecem sempre mais pesadas do que o ar que propaga o seu som. Mal sabíamos nós que esta seria a playlist do dia, Lana, sempre, quatro horas de Lana on repeat.






As bebidas aqui vêm em ponto grande, o que significa que o preço não pode ser considerado caro em proporção com o tamanho, nunca aconteceu dividir uma só bebida mas aqui é bem possível. Nomes diferentes chamaram-me a atenção e decidi partilhar uma groselha com limonada e um mazagran (este já conhecia) com o Nuno. Estavam os dois agradáveis, mas para quem tem gosto por coisas mais doces, a groselha ultrapassava a milhas. O melhor mazagran que já bebi foi, ironicamente, preparado por um amigo meu numa altura em que eu nunca tinha provado tal coisa. É incrível como as primeiras experiências nos marcam e nos podem afastar ou aproximar para sempre de um alimento, se o meu primeiro fosse este, não sei se voltaria a experimentar, achei que lhe faltava um pouco de açúcar e um toque a mais de café, mas não me considero suficientemente expert para dar opiniões objectivas. Este é um gosto pessoal.



Quanto à outra bebida, devorei-a. Mais tarde a Margarida pediu um chá frio de laranja (acho eu) e rooibos, cuja minha primeira experiência também foi caricata: o meu primeiro rooibos foi recebido por correio, numa carta que fazia parte da iniciativa Postcrossing. Acabei por prepará-lo em casa mas fiquei desiludida. Foi a mais cara das três e custava 2.50€. Groselha com limonada eleita como clara vencedora.



Quanto à comida, a primeira tosta estava tão boa que quando dei por ela já tinha desaparecido do prato de todos e tinha-me esquecido de a fotografar, tinha pasta de atum, tomate e pepino, e eu que não sou grande apreciadora de pepino não me fez qualquer diferença. Acho que ficou a 5.50€. A outra que comemos, com beringela, queijo de cabra e marmelada estava menos boa, era ligeiramente embuchativa, o Nuno deixou a parte dele porque sabia demasiado ao queijo. Era mais cara e acho que ficou a 6.90€.




Mas tudo isto são críticas menores, o espaço vale totalmente a pena, o atendimento é excelente: quando perguntámos se podiam cortar as tostas em três partes para dividir eles trouxeram logo três pratos já com um pedaço de cada tosta por cima. Um pequeno facilitismo que eles não precisavam de fazer mas que foi muitíssimo apreciado.




O espaço da esplanada pareceu-me também muito agradável mas acabámos por ficar apenas no interior (tomadas, tomadas!). Faz lembrar o Royale Café, uma área ao ar livre mas isolada, um dentro/fora (adoro este tipo de espaços paradoxais).

Outras coisas com bom aspecto: os bolos, os scones, as empadas e os brownies de chocolate que estavam a olhar para nós de dentro das suas redomas de vidro. A ementa de almoço também parecia muito tentadora e tendo em conta o preço das tostas, uma refeição completa acaba por ser mais barata (sopa + mini prato + café por 8€). Há também nesta altura uma opção chamada Menu de Verão (sopa + salada por 6.50€) que podemos escolher. A sopa sozinha é 2.5€.




Entre outras coisas há objectos vintage espalhados pelo café, garrafas antigas, balanças, livros e outros pormenores interessantes ainda por descobrir (mais literatura!).

Aberto de terça a sábado das 11h à meia-noite e domingo das 11h às 20h. Fechado às segundas.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nata Lisboa



Este é provavelmente um dos sítios a que cheguei mais perto da altura de inauguração, o Nata Lisboa fez algum barulho quando abriu no Princípe Real e começou logo a criar-se expectativa. Antes de escrever sobre o que quer que seja costumo fazer alguma pesquisa sobre o que já foi dito e deparei-me com alguns comentários negativos sobre quem estaria por detrás deste futuro franchising. Tenho a dizer que indepedentemente das más línguas o sítio foi um dos mais agradáveis a que já fui e conseguiu surpreender-me em dois aspectos simples mas peculiares.



O primeiro dos aspectos em que notei, não tivesse eu ido lá para trabalhar, foi no facto de ser possível carregar o computador estando nós na esplanada mas não dentro do próprio café, isto é, havia uma ficha quádrupla (é assim que se diz?) de desenrolar ao lado de uma espreguiçadeira de pedra. Isto é completamente oposto ao que costuma acontecer nos outros cafés, em que chega uma altura em que temos de nos mover para o interior onde residem as tomadas. Não aqui.




Outra das coisas que me surpreendeu e alegrou foi uma estrutura de madeira colocada no jardim que funcionava como escultura interactiva. Subindo as escadas bamboleantes podíamos sentar-nos no topo a observar para além do telhado que nos tapava a vista. Faz medo porque a cada degrau ouvimos o ranger medonho debaixo dos nossos pés e o próprio assento do banco é um pouco estranho. Não deixa de ser algo interessante e diferente e que me fez lembrar um downgrade de uma obra do Work of Art, um programa que tem inspirado o meu lado artístico mas do qual honestamente não sei ainda o que pensar dado a subjectividade da coisa.



O sítio não tem este nome por acaso, o pastel de nata é a sua razão de existência e a sua divulgação é uma espécie de missão que eles querem cumprir. Eu não pedi o pastel de nata, não sei se é um grande faux pas, mas sei que a sandes mista (1.65€) que me serviram juntamente com o chá frio (1.15€) me soube divinamente bem como nenhuma sandes tão simples me tinha sabido há um longo tempo. O pão era óptimo. Os preços são também bastante competitivos, em suma, não tenho queixas de nada, o serviço foi impecável (e ponham ênfase nisso). Infelizmente não tirei fotos de nada (é um bom sinal suponho, estava demasiado deliciada a consumir para me lembrar).





Estivemos ainda a andar pelo jardim e eu senti-me como uma criança estupidamente contente, sentei-me numa espécie de monumento de pedra que eles lá tinham, o Nuno e a Margarida experimentaram os bancos/estiradeiras de madeira, subimos todos à delicada estrutura com ares de perecível, contemplámos a parede que mais parecia um jogo de escalada e eu questionei o que fazia um cacto dentro de uma banheira.



Vão lá ver com os vossos olhos que vale a pena, e dêem também uma olhada na Livraria Babel/Fabrico Infinito, cuja entrada é partilhada com este café.

Aberto de segunda a sábado, das 10h às 20:30h, fechado aos domingos.