Quem me falou da Geraldine foi a Rosa. Lembro-me de me ter encontrado com ela à tarde, depois da faculdade e de meses sem a ver. A conversa mantém-se a mesma, felizmente, e ela presenteou-me com um artigo que tinha arrancado de uma revista. Lembro-me também de ter olhado para o nome e de este me ter intrigado. Quem é a Geraldine? No dia seguinte quis mencionar este local a alguém, mas a palavra maldita já se tinha varrido da minha memória.
A Geraldine é um espaço cultural e tem desde vendas de roupa, a workshops, jantares e ciclos de cinema. Não é um sítio onde se possa ir a meio da noite beber um copo. Funciona como escritório e é num primeiro andar de um prédio junto à Avenida da Liberdade. Todo o processo de tocar à campainha e subir um lance de escadas para entrar na casa de um estranho é uma experiência única e bastante insólita. Há sempre o sentimento de estranheza, de estarmos a invadir a privacidade de alguém: será que devemos explorar? Há portas fechadas, não por desconfiança, mas porque não têm nada para oferecer aos visitantes. Timidamente pedi se podia espreitar a cozinha, a rapariga guiou-me a uma porta encortinada e levantou-a para eu espreitar, é... Uma cozinha! Whoa!
Estava com a Patrícia e com a Margarida, as três igualmente intrigadas e sem sabermos muito bem o que fazer. Contudo, passado algum tempo, já estávamos mais adaptadas e comodamente sentadas em lugares de primeira fila. Era quarta-feira e o programa era observar um filme raro de cinema burlesco que iria ser projectado ali, numa tela colocada na sala de estar das proprietárias que tinha, para além de sofás e cadeiras, uma colecção de mini azulejos junto à porta, um candeeiro de tecto de forma estranha, dois retratos gigantes pintados e pendurados na parede, um pato Donald enjaulado, um telefone inútil sem números que aparece no cartão de visita, um mini projector de luz (que eu confundi com uma máquina de esticar a massa estupidamente) e gadgets antigos.
Enquanto não começava a sessão foram passando uns mini sketches que faziam parte do dvd. Cenas de pseudo striptease, em que as raparigas nunca ficavam em menos do que roupa interior, sendo que ara aquela altura isso já devia ser considerado praticamente nudez.
Passando disso para o filme propriamente dito, A Virgin in Hollywood relata a viagem de uma jovem jornalista a essa mesma cidade, sugerida pelo seu próprio patrão para que ela "amadureça" e escreva depois sobre toda a sua experiência, este amadurecimento acaba por acontecer, quer a nível intelectual quer a nível sexual, a pobre criatura perde um pouco da sua ingenuidade e torna-se mais confiante. No entanto, é um filme onde os protagonistas actuam de forma meio falsa e forçada, os diálogos são demasiado fantasiosos, as emoções exageradas e os cortes de plano demasiado óbvios, tudo isto dá-lhe um ar cómico e desnaturado, rimo-nos perante as acções da personagem principal, que no fim, após acabar de escrever a sua história, nos dá uma piscadela de olho cúmplice mas hilariante.
Algo que apreciei nesta experiência e que achei especial graça foi a familiaridade da coisa. As pessoas tocavam à campainha, entravam na sala e diziam boa noite aos presentes. Devíamos rondar as 20 pessoas, provavelmente os outros já se conheciam entre eles, mas estávamos lá todos pela mesma razão: apreciar um bom filme, e de graça, uma coisa que hoje em dia já se faz pouco e eu só tenho é de valorizar estas iniciativas.
Dia 28 de Abril vai haver neste espaço uma venda de roupa vintage em segunda mão, com preços acessíveis e oferta de scones e chá para os que vierem. E todos os meses há novas coisinhas, vão ao website e descubram.
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