domingo, 1 de abril de 2012

Wanli

Podem encontrar a segunda post sobre este lugar aqui.

Não sei como é que nunca tinha pensado nisto, mas é um facto de que todo o local tem um nome, e esse nome, tal como muitas outras coisas, funciona como extensão do próprio local, estando intimamente ligado à sua imagem. Como o nome deste blog, é a primeira impressão que temos de algo, e como tal pode servir como impulso para que sintamos curiosidade de investigar aprofundadamente uma coisa. O nome Wanli, como me disse o dono, ex-professor de história de arte na Católica, é solidariedade para com os nossos inimigos. É o nome de um imperador chinês da dinastia Ming, fazendo referência também a um dos muitos adornos colocados na parede: um prato azul e branco, pertencente a esse reinado, que se encontra por cima do telefone preto à antiga.



Fui acompanhar o meu amigo João a Santos, incumbido de fazer o papel de irmão mais velho e manter-se nas redondezas enquanto a irmã saía pela primeira vez. Prometeu que me pagava a paciência, como se eu estivesse a fazer algum sacrifício em sair, este rapaz não existe.

De qualquer dos modos, à procura de um local decente para ficar não havia muita escolha possível: tinha que vir cá dar ao Wanli, porque ir abanar a bunda para os Marretas e beber shots à brutamontes é uma fase que teve o seu momento algures no secundário.

Lembrei-me então desta pequena sala de estar. E lá entrámos, éramos os únicos à excepção de um grupo mais velho sentado numa das mesas da primeira divisão, mas nós fomos para o conforto da sala do fundo, com os sofás de couro, a pilha de revistas Time Out, a lareira esquecida e, o meu pormenor favorito, uma espécie de fonte onde nadavam tranquilos alguns peixes cor-de-laranja.



Noite paga, não houve tentativas de contenção: bebi um Martini Rosé com limão e gelo (3€) que a muito me soube e, só porque sim, venha também um Vinho do Porto Rosé com laranja, hortelã e gelo (3.50€), tudo devidamente acompanhado de duas doses de batatas fritas, servidas com um sorriso pela rapariga que lá estava, loirinha, sotaque alemão, um amor, e era mesmo isso que eu estava a precisar: boa gente. Depois de todos os mal encarados dos últimos dias.

Olhando para a lista de preços reparei que a selecção de tostas e sandes é muito interessante e fica entre os 1.50€ e os 3€, feitas em pão de lenha (dito pelo dono). O prato do dia é 5€ e a sopa 2€. Aqui tudo é ponderado, tudo tem história, os bolos vêm de receitas do século XVIII descobertas pela sexta ex-mulher do proprietário. Comida e ornamentos, as coisas têm uma razão de ser, não estão só por estar, e em cada elemento colocado na parede ou nas mesas pode ser encontrada uma peripécia, um bom tema de conversa, não descurando que são pertences de um professor de história, quem melhor para nos satisfazer essa curiosidade?

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